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sábado, 24 de setembro de 2011

Casamento: onde menos se faz sexo

Mais um esclarecedor artigo da Regina Navarro.

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Miriam, 29 anos, chegou ansiosa ao meu consultório: “Sou casada há três anos, amo muito meu marido; não consigo imaginar a vida sem ele. É meu melhor amigo e companheiro. Gosto quando ficamos juntos, abraçados ternamente, ele fazendo cafuné na minha cabeça. Mas, ao primeiro sinal de um carinho mais sexual, uso algum pretexto para me afastar. Não desejo fazer sexo com ele de jeito nenhum. Durante nosso namoro e no início do casamento eu gostava muito, mas agora só a ideia já me desagrada. Não conto isso para ninguém. A família e os amigos nos veem como exemplo de um casamento perfeito.”

Paulo, 38 anos, casado há sete, está desanimado: “Amo demais a minha mulher. Nossa vida é ótima; pensamos de forma parecida e nunca brigamos. Mas vivo um problema sério: Laís nunca quer fazer sexo. Sempre arranja uma desculpa para escapar. Namoramos durante cinco anos, e você acredita que o sexo era o ponto alto da relação? Não entendo porque mudou tanto. Já faz mais de dois meses que transamos a última vez. Se eu não insistir, acho que ela nunca vai se lembrar que sexo existe. Não gostaria de procurar outra mulher nem de me separar, mas estou cansado de só ter prazer me masturbando.”

Os exemplos acima representam o que ocorre em grande parte dos casamentos. É muito maior do que se imagina o número de mulheres que fazem sexo com seus maridos sem nenhuma vontade. Dor de cabeça, cansaço, preocupação com trabalho ou família são as desculpas mais usadas. Elas tentam tudo para postergar a obrigação que se impõem para manter o casamento. Quando o marido se mostra impaciente, o carinho que sente por ele, ou o medo de perdê-lo, faz com que a mulher se submeta ao sacrifício. Há algumas décadas, o filósofo inglês Bertrand Russell afirmou: “O casamento é para as mulheres a forma mais comum de se manterem, e a quantidade de relações sexuais indesejadas que elas têm que suportar é provavelmente maior no casamento do que na prostituição.”

O sexo no casamento tem uma longa história. No início do Cristianismo, os pais da Igreja não viam nenhum aspecto positivo no vínculo conjugal, nem achavam que o afeto entre marido e mulher era algo desejável. Paulo, no século I, estabeleceu os fundamentos de que o celibato era superior ao casamento. Para ele, a relação sexual, mesmo no casamento, seria um obstáculo no caminho da salvação (I Cor. 7:32-34). O sexo, aceito apenas para procriação, só estaria isento de pecado se não houvesse prazer.

Ter filhos era um dever do casal. Até meados do século XIX, quando o amor ainda não fazia parte do casamento, havia uma regra para a vida a dois. Era o dever conjugal a ser cumprido, principalmente na cama. Caso um dos dois cônjuges recusasse o ato sexual, recorria-se ao confessor, que censurava e podia negar a absolvição e a comunhão.

Da mesma forma que antes deveria ficar em segredo o ardor entre o casal, se houvesse, agora se tenta ocultar a diminuição ou o término do desejo sexual entre marido e mulher. Essa questão só passou a ser problema — o maior enfrentado pelos casais — quando, recentemente, o amor e o prazer sexual se tornaram primordiais na vida a dois e se criaram expectativas em relação a isso. Jornais, revistas e programas de tevê fazem matérias, tentando encontrar uma saída para a falta de desejo sexual no casamento. Como resolver a situação de casais que, após alguns anos de vida em comum, constatam decepcionados terem se tornado irmãos?

Alguns dizem que é necessário quebrar a rotina e ser criativo. As sugestões são variadas: ir a um motel, viajar no fim de semana, visitar uma sex-shop. Mas isso de nada adianta. O desejo sexual intenso é que leva à criatividade, e não o contrário. Quando não há desejo, a pessoa só quer mesmo dormir. Quem se angustia com essa questão sabe que desejo sexual não se força, existe ou não.

A falta dele no casamento nada tem a ver com falta de amor. Muitas mulheres, como Miriam, amam seus maridos, só não sentem mais desejo algum por eles. O sofrimento da mulher é maior quando ela reconhece no parceiro um homem inteligente, generoso, afetivo, e o mais doloroso de tudo: um homem que a ama e a deseja. Nesses casos é comum ouvirmos lamentos do tipo: “Nunca vou encontrar ninguém parecido.” E com medo do novo, de ficar sozinha, pode acabar optando por uma relação assexuada, até convencendo o marido que sexo não é tão importante.

O número de homens que perdem o desejo sexual no casamento é bem menor do que o de mulheres. Para cada homem que não tem vontade de fazer sexo há pelo menos quatro mulheres nessa situação. Alguns fatores podem contribuir para isso. Em primeiro lugar, o homem, na nossa cultura, é estimulado a iniciar a vida sexual cedo e se relacionar com qualquer mulher. Outra razão seria a necessidade de expelir o sêmen e, por último, a sua ereção seria mais rápida do que a da mulher, na medida em que necessita de menos quantidade de sangue irrigando seus órgãos genitais.

Não é necessário dizer que existem exceções, e que em alguns casais o desejo sexual continua existindo após vários anos de convívio. Mas não podemos tomar a minoria como padrão. Por que o desejo acaba no casamento? Mesmo que os dois se gostem, a rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com qualquer emoção. Busca-se muito mais segurança que prazer. Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade, o que sem dúvida é limitador e também responsável pela falta de desejo. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista. Familiaridade com o parceiro, associada ao hábito, podem provocar a perda do desejo sexual, independente do crescimento do amor e de sentimentos como admiração, companheirismo e carinho.

E o que fazer quando o desejo acaba? Essa é uma questão séria, principalmente para os que acreditam ser importante manter o casamento. É fundamental todos saberem que na grande maioria dos casos não se trata de problema pessoal ou daquela relação específica, e sim de fato inerente a qualquer relação prolongada, quando a exclusividade sexual é exigida. Essa informação pode evitar acusações mútuas, em que se busca um culpado pelo fim do desejo. O preço é a decepção de ver se dissipar a idealização do par amoroso. No entanto, a partir daí fica mais fácil cada um decidir o que fazer da vida.

As soluções são variadas, mas até as pessoas decidirem se separar há muito sofrimento. Alguns fazem sexo sem vontade, só para manter a relação. Outros optam por continuar juntos, vivendo como irmãos, como se sexo não existisse. E ainda existem aqueles que passam anos se torturando por não aceitar se separar nem viver sem sexo.

Falta uma reflexão a respeito do modelo de casamento vivido na nossa cultura. Nega-se o óbvio: o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual. Quando essa mentalidade mudar, as torturas psicológicas e os crimes passionais certamente diminuirão, assim como inúmeros outros fatores que geram angústia.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Separação e orgarmos

Tenho recebido uma dose cavalar das idéias de Regina Navarro. A produção dela é muito alta, o tempo todo tem postagens no Twitter, artigos em jornais, colunas em rádios e estou lendo A Cama na Varanda, o que tem me ajudado muito a mudar vários dos meus conceitos com relação aos relacionamentos. O livro é sensacional, e já coloquei outros na minha lista.

Minha digníssima e eu voltamos a ficar juntos, mas nosso problema ainda não foi resolvido. Tenho pesquisado bastante e li opiniões de diversos especialistas, cada um com sua fórmula e seu modelo. De todos, as idéias da Regina parece a que mais se aplica ao meu caso. Ainda não quero contar aqui o que aconteceu, mas farei isso em breve.

Fiquem com mais uma coluna dela na Rádio Metrópole, na qual ela conta dois casos comuns em seu consultório.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O efeito nocivo da repressão

Mais um texto da Regina Navarro publicado no Twitter:

O efeito nocivo da repressão> Muito se fala dos perigos de uma relação extraconjugal, mas pouco é dito sobre os efeitos nocivos da repressão dos desejos. Reich analisa os prejuízos causados às pessoas envolvidas e à própria relação. “Quando o desejo por outros parceiros se tornam mais prementes, afetam a relação sexual existente, nomeadamente, no sentido de acelerar o enfraquecimento do desejo sexual pelo cônjuge. A relação sexual torna-se progressivamente um hábito e um dever. A diminuição progressiva do prazer obtido com o parceiro e o desejo de outros objetos somam-se e reforçam-se mutuamente. Esta situação não pode evitar-se ou iludir-se por meio de boas intenções ou de “técnicas amorosas”.
É nesta altura que se manifesta um estado crítico de irritação contra o outro, irritação que, conforme o temperamento de cada um, se exterioriza ou é reprimida. Em qualquer dos casos, e conforme demonstra a análise de situações desse gênero, gera-se e desenvolve-se sem cessar um ódio inconsciente contra o outro, pelo fato de ele impedir a satisfação, frustrar, os outros desejos sexuais. Em tal caso, não se tem qualquer razão pessoal e consciente para odiar, entretanto, sente-se nele, e mesmo no amor que por ele se tenha, um obstáculo, um peso.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Digníssima em BSB

Digníssima está em Brasília, passará dez dias a trabalho com um espetáculo. Está sendo bom passar esse tempo longe depois de tudo que aconteceu.

O final de semana foi bem movimentado, RPG, dança de salão, passeios e voltas de bicicleta, muita leitura. Se fosse há algumas semanas, provavelmente teria ficado na frente do computador com o relógio demorando a rodar.

O próxima final de semana será igualmente ocupado. Domingo será realizado o Dia Mundial Sem Carro no Aterro do Flamengo com um grande passeio ciclístico. Um amigo vai ver quanto fica uma kombi para levar algumas pessoas até lá, tô dentro. Já me inscrevi e peguei minha camiseta.

Apesar da saudade, o tempo está passando bem rápido.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O pior dia

Este texto foi escrito antes de voltarmos. Fica o registro.

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É isso. Depois de quase nove anos, minha digníssima e eu estamos nos separando. Apesar de ter sido de forma amigável, toda separação é difícil. Estou mais magro e sem saber o que fazer.

Escrevo estas linhas no computador do quarto que por tanto tempo compartilhamos. Para trás ficarão bons momentos e as minhas chaves na mesa cozinha.

Foram com as palavras acima que comuniquei minha separação no Facebook. Foi o pior dia, entrar no quarto onde tantos momentos vivi e colocar minhas roupas, livros e DVDs dentro de sacos. Foi foda. Deixei uma carta na cama, as chaves na mesa, dei um longo abraço na minha cunhada e saí.

As chaves estão comigo novamente, mas o resto das coisas ainda estão lá. A digníssima ficou de devolver mas ainda não o fez. Tá sendo difícil para ela também, talvez esteja esperando a poeira baixar mais um pouco para ter coragem de ir lá em casa.

Ainda temos muito amor um pelo outro, e por incrível que pareça isso só dificulta as coisas. Os gregos antigos que eram sábios (não sei como estão agora, mas se levar em conta só a economia parece que não são muito). Eles possuiam três palavras distintas para o amor: eros, philia e ágape.

Eros é o amor romântico, de natureza sexual. Philia é o amor entre amigos, família e comunidade. É desapaixonado. O ágape tem feição mais ampla, é o sentimento não carnal entre cônjuges (fonte).

A merda toda aconteceu quando nós, ocidentais, juntamos esses três sentimentos distintos num só. Este texto do Casal Sem Vergonha explica bem o que quero dizer, não fomos educados para separar amor de sexo. Regina Navarro fala a mesma coisa nesta coluna e nestas postagens. Será que é possível um casal viver feliz e junto tendo, eventualmente, outros parceiros sexuais? Minha razão diz que sim, mas na prática a teoria é diferente.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sei que

O texto abaixo escrevi para minha digníssima há pouco mais de dois anos, durante uma breve briga na qual nos afastamos por alguns dias:

Sei que você não vive sem queijo, café e pipoca;
Sei que você odeia mamão, abobrinha e coisas artificiais de morango;
Sei que você tosse quando limpa o ouvido;
Sei que você adora bichos;
Sei que seu programa de TV favorito é Friends;
Sei que você não vive se estiver longe do palco;
Sei que você faz excelentes macarrões;
Sei que você quer fazer uma lipo;
Sei que você quer aprender a tocar carron;
Sei que você adora cafuné na hora de dormir;
Sei que você adora a panqueca da minha mãe e makimono de polvo;
Sei que você fala paulistês quando bebe;
Sei que você baba quando dorme;
Sei que você tem plica no joelho;
Sei que você já dançou vestida de pirulito;
Sei que você não queria que seus avós morassem tão longe;
Sei que você tem alergia a camarão;
Sei que você gosta mais de televisão do que de rádio;
Sei que você adora verde;
Sei que você adora os livros de Marion Zimmer Bradley;
Sei que você dorme com a TV ligada;
Sei que você ama dançar;
Sei que quando você começa a assistir um seriado, só sossega depois que terminar tudo;
Sei que você queria que a Barra fosse mais perto;
Sei que você odeia quanto te chamam pelo diminutivo;
Sei que seu final de semana é na segunda;
Sei que você adora ir à locadora;
Sei que você decora um texto numa viagem de ônibus;
Sei que você faz pátina quando pinta a unha;
Sei que você detestou pedagogia;
Sei que você adora musicais;
Sei que você adora os quadrinhos do Garfield;
Sei que você sente cócegas na barriga;
Sei que você consegue se maquiar dentro de um carro em movimento;
Sei que você adora vinho vagabundo;
Sei que você adora videokê;
Sei que você adora meias coloridas;
Sei que você detesta massagear alguém;
Sei que você não consegue ficar mais que 20 minutos na internet;
Sei que você prefere chocolate preto do que o branco;
Sei que na sua casa terá pinguins, totós, hipopótamos e focas;
Sei que seu futuro será brilhante;
Sei que levei seis anos para saber tudo isso sobre você;
Sei que sinto muita saudade;
Sei que te amo.

Pouco tempo depois, na comemoração de meu aniversário num bar, ela leu para todos a sua versão do texto. Felizmente minha cunhada conseguiu filmar um trecho da declaração. Assista abaixo:



Não foi lindo?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sociedade ocidental

Minha digníssima fez uma peça na qual interpretava uma terapeuta que em certo momento fazia uma palestra para mulheres. Começava a fala da seguinte forma:

- A sociedade judaico-cristã ocidental, culpabilizada, de mandamentos retrógrados...

Hoje em dia qualquer linha parecida com a acima é um clichê e morro de rir toda vez que alguém tenta usá-la numa frase séria. Mas ainda assim é cheia de significados.

A maldita Igreja Católica transformou o sexo e a busca pelo prazer em pecado, associando os três amores gregos em apenas um. Por mais liberal que nossas criações tenham sido, ainda carregamos esse fardo nas costas, com grande dificuldade em separar o amor do sexo. O desejo por outros parceiros é natural, e isso não significa que a vida a dois possa ser interrompida, pelo contrário, é tudo um aprendizado que só fortalece os momentos de intimidade do casal. Isso não quer dizer que o contrário também pode ser verdadeiro, com a exclusividade funcionando muito bem para ambos.

Enquanto escrevia esse texto, Regina Navarro postou no Twitter o link para sua entrevista a Marília Gabriela no qual, coincidentemente, fala sobre tudo isso e muito melhor que eu. Recomendo a todos.









terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bem-vinda M

Publiquei o texto abaixo em 2008 no Ilhados:
Foi bom enquanto durou. Não sei exatamente quantos anos foram, mas sei que foram muitos. Sua chegada marcou um momento muito importante na minha vida. Deixei de ser criança com sua chegada.

Agora você me abandona dessa forma. Nosso relacionamento não estava muito bom já há algum tempo, mas mesmo assim eu insisti. Mantive você comigo, mesmo com todos os incômodos que me causava.

Não sei se voltaremos. Acho impossível uma reconciliação. Do jeito que está, só daqui a muito tempo, com muito esforço e dedicação.

Adeus M. Inicio uma nova fase na minha vida. De agora em diante, só comprarei camisetas tamanho G.

Resolvi resgatar esse texto por dois motivos:

1) Depois do lento processo de reeducação alimentar que comecei após o carnaval e dos meus recentes exercícios com a bicicleta, voltei a vestir tamanho M.

2) O nome da minha digníssima começa com M, e na época alguns amigos comentaram que ao iniciar a leitura da crônica acharam que tínhamos terminado. Como recentemente ficamos uma semana separados, esta outra M da minha vida também voltou.

Sejam ambas bem-vindas!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Twitter da Regina Navarro

Recomendo muito seguirem a Regina Navarro no Twitter. Seguem dois de seus textos:

Exclusividade sexual

Apesar dos conflitos, medos e culpas, da expectativa dos parentes e amigos, dos costumes sociais, e dos ensinamentos estimularem que se invista toda a energia sexual em uma única pessoa — marido ou esposa —, homens e mulheres são profundamente adúlteros. O conflito entre o desejo e o medo de transgredir é doloroso. Mas reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los.

W.Reich afirma que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual. Provavelmente diminuiriam as torturas psicológicas e os crimes passionais, e desapareceriam também inúmeros fatores e causas das perturbações psíquicas que são apenas uma solução inadequada desses problemas.

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Estamos no meio de um processo de profunda mudança das mentalidades, que se iniciou com os movimentos de contracultura das décadas de 60/70. O amor romântico — calcado na idealização e que prega a fusão entre os amantes, com a ideia de que os dois vão se transformar em um só, que cada um vai ter todas as necessidades satisfeitas pelo outro, que nada mais no mundo interessa, que prega que quem ama não transa com mais ninguém — está, felizmente, dando sinais de começar a sair de cena, levando com ele a exigência de exclusividade.

Esse tipo de amor é um terreno propício para a simbiose e a dependência entre o casal. Acredito que podemos nos livrar disso refletindo sobre esses e todos os outros valores equivocados que nos ensinaram e que geram sofrimento.

Além disso, a mudança das mentalidades é lenta e gradual. Provavelmente, uma criança que está nascendo agora daqui a 20 anos não terá mais essa dúvida. Ela vai ser criada num mundo (no Ocidente) em que os valores já estarão bem diferentes.

domingo, 4 de setembro de 2011

Rápida notícia sobre nosso retorno

Para uma melhor experiência, ligue o som do seu computador e aperte o play abaixo:



Como muitos já devem saber, minha digníssima e eu resolvemos nos dar mais uma chance. Gostaria de agradecer e pedir desculpas aos amigos por terem enxugado nossas lágrimas e ouvido nossos lamúrios e infortúnios para depois receber esta notícia.

Não resolvemos nossos problemas, mas nosso diálogo está em um nível mais avançado e conseguimos estipular alguns objetivos concretos que talvez (eu disse talvez) nos ajudem no médio prazo. No curto prazo, para resolver nossas necessidades mais imediatas, tomamos algumas decisões arriscadas e condenáveis.

Este blog continuará. Já tem algumas postagens programadas, mas ainda quero contar o motivo da separação, a terapia de casal que estamos fazendo, como me sairei com meus objetivos traçados quando solteiro (já comecei a dança de salão e minha bicicleta já chegou), quero colocar reportagens e artigos de especialistas em relacionamentos entre outras coisas.

Estou escrevendo este texto correndo, entre o banho no Cachacinha e minha volta de bicicleta. Mais tarde partirei para o Baixo Gávea. Meus domingos, antes disperdiçados na frente deste computador, agora ganharam outros horizontes e o tempo está voando.

Só queria pedir uma coisa aos amigos: acreditem na gente. Que seus conselhos sejam pela manutenção desse relacionamento que apesar de seus problemas, é a melhor coisa que já me aconteceu.

Fiquem com fotos do meu domingo:




As mensagens de apoio

Para uma melhor experiência, ligue o som do seu computador e aperte o play abaixo:



Tenho passado pelos piores dias da minha vida. Não consigo trabalhar, só quero ficar em casa, tá tudo uma merda. Por conta disso, tenho recebido muitas mensagens de carinho de amigos e leitores. As pessoas se manifestam por telefone, mensagens pelo celular, Facebook, e-mail. Quem nunca passou por isso pelo menos consegue imaginar o que é ao ver amigos que já sentiram na pela a dor de uma separação.

Fiquei impressionado mesmo com a quantidade de mensagem de leitores. Aproximadamente 250 pessoas recebem as atualizações do Ilhados por e-mail, e foi respondendo a postagem na qual anunciei a separação que eles se manifestaram. A maior parte foram apenas desejos de sorte e força, mas alguns pararam para escrever mensagens maiores, procurando palavras de conforto e relatando experiências pessoais. Fiquei feliz em saber que pessoas que nunca encontrei pessoalmente podem ser tão gentis. Quem sabe um dia não organizo um encontro?

Cada um oferece o que tem, e muitos se disponibilizaram a dar um ombro amigo numa mesa de bar para esta pobre alma desolada chorar. Já a Ciça disse que poderia fazer um trabalho de amarração, que recusei, claro. Apesar de estar vivendo no inferno, ainda não consigo acreditar em deus e magias. O estranho é que no dia em que encontrei a digníssima no Karekas, contei essa história. Para minha surpresa, ela gostou da idéia e ainda disse: - Por que não? Assim a gente seria feliz para sempre.

Dá para entender a dor que é perder uma mulher dessa? Pelo sim e pelo não, passei na Ciça e deixei com ela um papel com nossos nomes escritos. Vai que...

Yo no creo en las brujas; pero que las hay, las hay.

sábado, 3 de setembro de 2011

Fui às compras

Para uma melhor experiência, ligue o som do seu computador e aperte o play abaixo:



Impressionante como até pequenos atos ganham significado quando nos separamos. Outro dia comprei dois cintos, um de couro tradicional e outro moderninho. Estou pensando em queimar o antigo e jogar as cinzas na Praia da Bica, como símbolo de um recomeço.

Nunca fui uma pessoa consumista. Assim como só precisava de um par de tênis, só precisava de um cinto, que estava comigo desde antes de 2002, ou seja, mais antigo que nosso relacionamento. O coitado estava todo estrupiado, em estado calamitoso, mas mesmo assim não via necessidade em trocá-lo. Minhas roupas sempre foram fornecidas pela minha digníssima e pela minha mãe, hábito este que também estou mudando. Obviamente minha aparência foi deixada de lado, não totalmente, mas não procurava me produzir com o esmero necessário para atrair as pessoas. Desnecessário dizer que isso contribui para a separação.

Estou comprando roupas novas e tem sido bem difícil. Em breve irei ao Ilha Plaza Galeria para comprar um sapatênis e uma calça jeans moderninha. Ainda não me acostumei com a idéia do sapatênis, mas "dar um tapa" no visual agora vai me fazer bem.

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A música da postagem foi composta pela amiga e artista Mariane Guerra, uma homenagem a minha digníssima, que é atriz e bailarina.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O abandono e a dor

Regina Navarro Lins é psicanalista uma das terapeutas de casais mais conhecidas do país. Autora de diversos livros, já ajudou milhares de pessoas a colocar a vida em ordem.

No áudio abaixo, ela fala sobre a dor da separação. Me chamou a atenção o comentário final, dizendo que a mudança periódica de parceiros aumenta o desejo sexual, ajudando a manter o relacionamento. Os casais precisam dissociar sexualidade de fidelidade. Interessante.

Como ficamos pela primeira vez

Para uma melhor experiência, aperte o play abaixo:



Há algum tempo (alguns anos) comecei a escrever toda a história do nosso relacionamento. Foi uma análise bem profunda, passando por caminhos que trilhei e que me levaram até minha digníssima. Pensei em apenas pegar este relato e ir postando aqui, mas escrever tudo novamente pode me ajudar a ter outros insites e comparar com a forma como enxergava esse relacionamento no passado.

Como ficamos pela primeira vez

Nos conhecemos num grupo de teatro. Tinha feito um curso de seis meses na Biblioteca Estadual e queria continuar fazendo aulas. Por indicação de uma amiga, fui para esse lugar na Ilha. Usava um cabelo muito esquisito, com cachos feitos com o dedo, uma coisa horrorosa. A primeira vez que ela me viu eu estava bebendo água no bebedouro e vestindo uma calça colorida que tinham me emprestado para a aula. Tempo depois descobrir que a primeira coisa que a digníssima pensou foi: nunca ficaria com ele.

Ela era noiva na época, ia casar e já estava procurando apartamento com o cara. Resolveu ficar comigo apenas para dar o troco ao indivíduo, que não era muito fiel. Depois de um teste para verificar a masculinidade minha e de um amigo (teste que se mostrou infalível), ela me escolheu. Após uma apresentação no teatro, me convidou para ir a um aniversário. Estava muito cansado e declinei o convite. Na mesma noite, por volta de uma da manhã, ela me ligou para avisar que estavam indo para a Praia da Bica e me chamou novamente. Sempre fui muito lesado, não percebi suas intenções. Declinei novamente.

Dias depois aconteceu o segundo turno das eleições presidenciais, na qual Lula foi eleito pela primeira vez (27 de outubro de 2002). Aquele dia foi minha última participação como ativista político. Acordei cedo e fiquei rodando a Ilha com minha bandeira do PT, encontrando amigos, fazendo boca-de-urna, bebendo cerveja. Como a vitória era certa, fui para a Cinelândia comemorar a vitória do operário que virava presidente.

Ela ligou para me chamar para a Cinelândia, mas eu já estava lá com algumas amigas em comum. Tempo depois ela apareceu com a mãe. Estávamos lá, bebendo, conversando, ela usando todo o charme mas o babaca aqui não percebeu as intenções. Em certo momento uma das nossas amigas me agarrou e ficamos. A digníssima, claro, não acreditou naquilo. Quando teve uma oportunidade, se aproximou e, finalmente, foi direta: - seu otário, vim aqui para ficar contigo e você fica com outra! Só assim a ficha caiu. Sapiente do que ela queria, demos nosso primeiro beijo na casa da mãe dela, depois que fui convidado para lá dormir (já tinhamos dado uns beijos antes numa brincadeira).

Assim fomos ficando eventualmente, escondidos. Poucas pessoas sabiam, afinal de contas ela era comprometida e não tinha intenção nenhuma em terminar. Mas com o passar do tempo o relacionamento dela foi piorando.

Numa próxima postagem contarei como começamos, efetivamente, a namorar.

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Abaixo, mais uma mensagem de uma leitora.

Olá, acho que eu também fui um pouco lesada, pois no BLOG anterior eu já tinha lido algo paracido como minha Ex-dignissíma , mas nem assim me toquei affffffffffffffffffffffffffffffffff só agora percebi o lance, muito lerda né? rsrsrs

Bem, se conselho fosse bom não se dava, vendia né? mas tudo que li aqui nesse seu novo BLOG é bem verdadeiro e vai te ajudar bastante, sei que voce deve estar bem "perdido" isso é normal no começo, mas sei que com o tempo voce vai dar a volta por cima, voce não é o primeiro e nem será o último a terminar um relacionamento, não sei de quem partiu a ideia, mas pelo que percebi foi mais ou menos em comum acordo, isso pode até ser 1 ponto a fovor de vocês voltarem, se desejarem lógico.

Para nós leitores do seu BLOG é triste saber da separação, mas estamos aqui para te dar uma força, escrever e trabalhar é muito bom vai te ajudar nessa fase, e faça tudo que está querendo, como auto-escola , aula de dança , etc.... vai dar um up-grade na sua vida.

Estamos aqui para o que precisar e Boa sorte nessa etapa..
Bjs

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os primeiros dias

Para uma melhor experiência, ligue o som do seu computador e aperte o play abaixo:



Tenho feito metas bem realistas para essa nova etapa da minha vida, e meta realistas nunca incluirão, jamais, em hipótese alguma, frequentar uma academia. Acho que uma das mulheres mais desejadas hoje é a Gisele Bundchen, não apenas pela beleza, mas também pela conta bancária. Casados e solteiros abririam mão de qualquer coisa para uma chance com ela (menos eu, ainda não consigo me imaginar com outra pessoa). Nem se a Gisele quisesse casar comigo e a única exigência fosse que eu passasse a me exercitar numa academia eu aceitaria, não quero mais deixar de ser eu mesmo por causa de um relacionamento. Mas exercícios estão nos meus planos.

O único espólio da separação que fiz questão foi a sesi rosa que pertencia a digníssima. Além disso, comprei uma outra bicicleta, dobrável, e tenho muitos planos para ela. Também como forma de colocar a carcaça em movimento, estou acordando mais cedo e andando uns 20 minutos para um ponto de ônibus mais distante. Não é muita coisa, mas já começo o dia com uma pequena caminhada. Nesta andança, passo sempre em frente ao antigo teatro no qual nos conhecemos (um dia eu conto). Agora é uma residência e vez por outra tem um operário trabalhando numa reforma. Sempre me estico nas pontas dos pés tentando olhar para dentro, saber como está o local no qual passei tantos momentos da minha vida. Não dá para ver muita coisa, talvez em algum dia eu peça para entrar.

Quanta a auto escola, entrei em contato com algumas da Ilha e estão todas lotadas, aulas avulssas só a partir de outubro. A Diniz nem está aceitando alunos habilitados. Acho que não tem outro jeito, vou ter que marcar as aulas com mais de um mês de antecedência. Quem está pensando num negócio no bairro me parece que os CFCs são uma boa oportunidade.

Já as aulas de dança de salão estou esperando apenas abrir a turma de sábado. Uma amiga é professora de uma academia e espero que ela seja a professora. Além de aprender a dançar, posso desabafar um pouco, já que ela também é psicóloga.

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Nos encontramos na terça. Bebemos algumas cervejas no Karekas, rimos bastante, choramos bastante, e compartilhamos o quão tem sido difícil essa separação. Mas vai dar tudo certo, o tempo está do nosso lado.

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Neste sábado haverá um churrasco na casa de amigos em comum. Não vou, ainda é muito cedo para isso, mas espero que não deixem de me convidar.

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Veja como foi minha curta experiência em academias:


PS.: ainda estou aguardando o bueiro, só espero que ele venha antes do dia 9.

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Abaixo, um dos tantos e-mails que tenho recebido dos meus queridos leitores. Obrigado pela manifestação de carinho que tenho recebido.

É isso aí, meu Jovem.

Concordo plenamente: amar menos nunca será a melhor solução... amar mais cada coisa que nos interesse, creio que seja por aí...e aí é bom ligar a antena pra não cairmos em nossas próprias armadilhas...quanto à direção em que disparamos nosso interesse... Não posso deixar de falar que curti muito suas aventuras gastronômicas com sua (ex?) Digníssima, e lamento pelo fim. Acho que a gente sempre lamenta, mesmo que não conheça a história do outro de verdade...acho que a gente lamenta pela gente mesmo, pelo que a gente sonha e perde, pelo tanto que a gente quer acreditar em si mesmo... Fica com 'A Ponte', do Mário Benedetti, pra mim funciona como um afago na alma, há muito tempo. 


A ponte

Para cruzá-la ou não cruzá-la
eis a ponte

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país

trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar

venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra

nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco

eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país